A sustentação da Agilidade

24/01/2021 | Escrito por Cleila Elvira Lyra
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Temos lido, escutado, assistido as pessoas descreverem o momento histórico da sociedade do planeta Terra, com o conhecido acróstico VUCA, em português Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo. Mas, recentemente o futurista norte-americano J. Cascio achou que era pouco e agregou mais uma camada de sentido com o acróstico BANI, em português Frágil, Ansioso, Não-linear, Incompreensível. Nossa atenção aqui não se dará na discussão sobre qual dos acrósticos será mais adequado para explicar nosso momento, mas, estará sim, na constatação de que inequivocamente estamos vivendo uma época de fragilidades.

Diante disso, precisamos nos situar, refletir e nos posicionar frente ao cenário cada vez mais em fluxo e transformação constantes, existentes na sociedade e nas organizações. A julgar pelos cenários VUCA / BANI, cada vez teremos menos ordem e planejamentos estáveis e previsíveis.

Não é de estranhar então, que o desenho atual das mais variadas ferramentas demandadas pelas organizações tem, em algum lugar, o adjetivo Ágil ou o substantivo Agilidade. Todas, claro, visando mudanças de atitudes. Voar com os pés na terra.

Agilidade requer mudanças de processos decisórios. Uma decorrência natural pode ser a contrapartida organizacional de delegação, promovendo cada vez mais autonomia e coragem para tomar decisões, por parte dos trabalhadores em geral. Mas isto, apesar de ser desejado, gera aumento de responsabilidade e pode incrementar os níveis de estresse e de insegurança dos trabalhadores em geral.

Assim sendo, fica claro que será preciso investimento em no mínimo duas direções. Por um lado, a competência da organização em sustentar e apoiar os indivíduos e líderes com toda sorte de recursos tecnológicos, burocráticos, humanos e, por outro, o empenho dos indivíduos e líderes para abrirem-se ao novo, aprenderem, colaborarem e darem suporte aos colegas e colaboradores sob sua responsabilidade.

Diante disso convém indagar? Onde se sustenta a Agilidade?

A resposta parece simples de ser formulada, mas difícil de ser praticada. Agilidade se sustenta no ser humano, aquele que tem IH e não IA. Ou seja, um ser complexo capaz de façanhas incríveis, mas delicado e sensível, ainda que o disfarce no seu trabalho. E continuando, um ser humano para dar conta dessa agilidade toda nesse cenário VUCA / BANI, precisa de um especial treino de centramento e ampliação da autoconsciência. Somente com os pés bem enraizados em nós mesmos, já que tudo mais estará girando freneticamente, poderemos nos manter saudáveis. Condição si ne qua non para enfrentarmos com coragem, integridade e alegria os tempos que virão.  

Esses tempos futuros não precisam ser funestos, ao contrário, podem ser os melhores já vividos pela humanidade, mas vai depender da colaboração de todos, do entendimento de que a vida (a natureza incluindo o ser humano), é a razão da existência de todos os outros componentes do sistema social.

“O novo amanhecer floresce à medida que o libertamos,

Pois há sempre luz,

Se formos suficientemente valentes para ver isso,

Se formos suficientemente valentes para ser isso.”[i]  

 


[i] Amanda Gorman. Tradução livre do final do poema para posse do Pres. Joe Biden 20/01/21