Jornadas Culturais

23/04/2016 | Escrito por Cleila Elvira Lyra
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   Reflexões sobre o filme Feitiço do Tempo

   Ficha Técnica

   Direção: Harold Ramis

   Roteiro: Trevor Albert e Harold Ramis

   Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell, Chris Elliot

 

 

 

 

 

Breve relato:

PHIL ... era um jornalista, de televisão, que estava farto de repetir todos os dias e anos as mesmas reportagens e tarefas, como o jornal de meteorologia e a cobertura em uma pequena cidade do interior dos EUA, que celebrava o Groundhog Day, o Dia da Marmota.

Embora fosse cobrir tal evento anualmente, desdenhava a população e o evento. 

Detestava fazer aquela cobertura da marmota prevendo a intensidade e duração do inverno que chegava. Para ele isso era ridículo. 

Considerava a pequena cidade de Punxsutawney e seus habitantes uns “caipiras”

Mas a vida lhe oferece uma surpresa. Depois da cobertura pela TV do tradicional Dia da Marmota, onde, como sempre, se comportou de modo vaidoso, arrogante e superficial, na volta, houve uma nevasca – fora das suas previsões meteorológicas – e ele e seus companheiros ficaram retidos na cidade.

Foi assim que Phil ... ficou preso no dia 02 de fevereiro – o dia da marmota... dia após dia. Ao despertar, novamente era dia 02 de fevereiro...

 Foi procurando todas as formas de lidar com o que estava acontecendo, de médicos a medicamentos. Logo percebeu que isto acontecia somente com ele, e assim, potencializou seu comportamento natural, agindo de modo ainda mais superficial e manipulando situações em seu favor, como:

  • Cobertura da cena da marmota com alto grau de sarcasmo
  • Faz comentários sobre inverno como algo detestável 
  • Sua arrogância o faz merecedor do apelido “prima donna”
  • Não observa pessoas na rua, despreza e se afasta de um idoso que lhe pede auxilio 

Enfim, Phil não é capaz de perceber ninguém... egoísta só se enxerga a si e sua vaidade.

Mas a real situação para ele, naquela cidadezinha, era de que se repetia o mesmo e único dia. Suas reações iniciais de defesa são o aumento da incredulidade, alternância da agitação para depressão, reações onde aproveita a vida sem consequências, seguidas de nova depressão e assim, redemoinhando sem descer até sua alma, chegou a uma tentativa de suicídio. De fato, ela aconteceu, porém no outro dia era novamente dia 02 de fevereiro e tudo continuava igual. 

Sem entender o que acontecia, foi em cada diálogo, em cada situação tecendo hipóteses... mas como tudo se repetia incessantemente, algo começou a mudar dentro dele. 

Em outras palavras: impotente para mudar o cenário, foi mudando a si mesmo. 

Começa então a prestar atenção ao entorno... 

 Pouco a pouco foi entrando em contato com as pessoas e a vida naquela cidade. Observa as pessoas... seus corações...seus desejos não realizados e começa a olhar mais em profundidade também para si mesmo.

 Foi assim entendendo, que o melhor que poderia fazer seria viver plenamente este tempo, posto que estava preso, inexoravelmente e inexplicavelmente, no dia 02 de fevereiro em Punxsutawney. 

 Mas no que consistiria este viver plenamente o dia?

 Nos disse Sêneca, no sec 4 a.C. Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida. 

 Para Phil significou “Viver no momento”, estar presente. Plenamente presente.

Foi sua única possibilidade para dar sentido à sua vida. 

Inicia então atividades que nunca havia se dado o direito de fazer, por não serem prioritários, como: escultura no gelo até tornar-se um exímio escultor com neve congelada. Receber lições de piano até tornar-se um excelente pianista, brincar, ajudar pessoas carentes, perceber uma pessoa especial que estava ao seu lado, Rita, bem como seus colegas da equipe da emissora de TV e outros. 

Enfim, estar com suas quatro dimensões psíquicas no presente e em sintonia: corpo, mente, coração e alma.

Phil, se transforma... e na sua última narração do dia da marmota, chega a afirmar que o inverno pode ser adorável perto de pessoas que têm coração... na cidade de Punxsutawney.

 

Reflexões:


Muitas reflexões podem ser feitas a partir do filme e cada um aproveitará e interpretará a seu modo, de acordo com o que estiver vivendo no momento, ou que seu repertorio de experiências permitir. Mas existe algo contundente que vale para todos.

Nossa vida não é nada mais que uma sucessão de pequenos momentos, que somados, compõe uma jornada única, a de cada um de nós.

Muitos estímulos e demandas acontecem em cada um desses momentos. Nossa importante tarefa será selecionar dentre estes, alguns de valor central para cada um. Quero dizer, de valor para a ampliação da humanização e da individuação.   Toda vez que nos perdemos em atividades frívolas e/ ou desconectadas de nós mesmos, perdemos um pedacinho da oportunidade que nos é ofertado, de enriquecer nossa própria alma e existência. 

A metáfora de Phil aprisionado no tempo, pode nos ensinar sobre as aprendizagens que insistimos em não fazer [passado] e então, subitamente algo nos acontece [presente] para que não tenhamos nenhuma possibilidade de não mais ver. 

Situações na vida que nos fazem deparar inevitavelmente com aquilo do que fugimos, e as vezes nos chegam com força e fúria. 

Se fizermos como Phil, teremos oportunidade de re-significar nossas trajetórias e criarmos um futuro muito mais pleno. 

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