Jornadas Culturais
Figura – criada e desenhada por Nomad Ink Studio, para Cleila E. Lyra. Direitos reservados.
Navegar por entre metáforas, quando bem guiados, podem nos levar mais facilmente ao encontro com alguns aspectos menos reconhecidos de nós mesmos, os quais, em virtude da hegemonia da racionalidade, marca do nosso tempo nas organizações, são apagados no fundo do nosso ser. Mas elas ficam lá e produzem diferentes tipos de sintomas. Como dizem os místicos, antes de pretendermos apaziguar os quarteirões em Jerusalém, devemos apaziguar nossos quarteirões internos. Ou, ainda mais diretamente, a verdadeira jihad, guerra santa ou cruzada é aquela que travamos com nós mesmos, com nossa sombra. Enquanto essa sombra não for reconhecida em nós mesmos [...] vamos projetá-la no exterior e sobre o outro. Todo o mal que não tivermos reconhecido em nós mesmos, tentaremos abater fora de nós.
Na Coradin & Lyra temos desenvolvido ao longo dos anos, duas principais “ferramentas” para abordagem dessas questões, que ficam à margem da nossa compreensão racional.
A mitologia grega com suas histórias “verdadeiras” e as metáforas da 7ª arte, com suas sátiras, dramas, comédias, ficções, que antecipam ou personificam, através da percepção dos seus criadores, os dilemas da humanidade.
JORNADAS CULTURAIS – SETIMA ARTE
Como exemplo, ver artigo publicado: C&L Jornada Cultural - cinema -Tempo e Presença
Refere-se a Reflexões sobre o filme Feitiço do Tempo
(clique na imagem para acessar o artigo.)
JORNADAS CULTURAIS – MITOLOGIA
Mitos são histórias verdadeiras porque se repetem na humanidade, desde quando a primeira relação social acontecida na face da terra foi relatada. Segundo Eliade, mais recentemente pesquisadores descobriram que o cultivo de entidades misteriosas e deuses, remontam ao período neolítico II (3000 – 2600 a.C), na Tessalia (Grécia), e se referiam aos cultos à Terra – Mãe e a Grande Mãe
Porém a mitologia ficou conhecida entre nós, através da literatura grega e sobretudo com os poemas épicos de Homero, a Ilíada e a Odisseia, e também de Hesíodo que escreveu a Teogonia e os Trabalhos e Dias.
As sociedades arcaicas entendem o mito como uma história além de verdadeira, extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo.
Campbell e Eliade falam do caráter eterno de um mito. Isto porque eles representam algo anterior a sua formulação. Isto é, são criados para dar conta de uma condição psíquica e coletiva da espécie homo sapiens, inacessivel pela razão.
“A principal função do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas: tanto a alimentação ou o casamento, quanto o trabalho, a educação, a arte ou a sabedoria”.
Na concepção de Carl Jung, o inconsciente coletivo é uma estrutura da psique que contém elementos herdados da evolução da espécie humana e nasce com cada indivíduo. Parece estar constituído por motivos mitológicos ou imagens primordiais, razão pela qual os mitos de todas as nações são seus verdadeiros exponentes. De fato toda mitologia pode considerar-se uma espécie de projeção do inconsciente coletivo.
Desse modo, refletir sobre as histórias contadas pelos mitos, nos apoiam fortemente para insights sobre nós mesmos em nossos enredos, que são a um só tempo particulares e coletivos, pois se repetem em todas as relações entre homo sapiens pelos confins do mundo.
Desenvolvemos algumas atividades para trabalhar estas questões. São elas:
a) A jornada do Herói
Trata-se de um mergulho na nossa alma para encontrar a fonte da nossa autodeterminação. Muitas vezes não nos damos conta que em nosso modelo de vida, estamos realizando os desejos ou os mandatos de outros, de pessoas que podem até já estarem mortas e que viveram em outro tempo, como avós e pais.
A importância maior de realizar, ou conhecer a Jornada do Herói é compreender que será preciso assumir a responsabilidade sobre nossas escolhas e junto com elas o fardo da nossa liberdade [E. Fromm] de sermos nós mesmos, os criadores do sentido para a narrativa das nossas vidas.
Podemos entender essa caminhada, examinando diretamente mitos como Ulisses [Odisseo], Psiqué [Alma] ou então algumas ficções que estes mitos inspiraram, como Star Wars de George Lucas ou Matrix dos irmãos Wachowski, ou Harry Potter de J.K.Rowling, entre outros.
Nesses casos das ficções e em outros, nas nossas vidas reais, podemos perceber um ciclo com algumas etapas, tais como descritas nessa jornada que transforma um ser humano normal, em um herói.
A história de todo herói se inicia com a descrição de uma vida normal até que de repente ele se defronta com um desafio, onde deve fazer uma difícil primeira escolha. Se por seu livre arbítrio escolher aceitar o desafio, como Neo de Matrix ao escolher a pílula vermelha, ele iniciará uma jornada, que será difícil, mas que o transformará para sempre.
Refletir sobre a jornada da nossa vida, tendo em perspectiva a do mito, poderá iluminar situações até aqui obscuras.
b) Sete das deusas gregas e os arquétipos femininos
Nesta jornada,apresentamos as sete deusas gregas, como padrões internalizados do feminino em face ao conceito de arquétipos de Jung, integrando ainda, os insights de Jean Shinoda Bolen.
Platão descreveu humanos, originalmente andróginos, como seres integrais, capazes de conter, em equilíbrio, as polaridades feminino e masculino.
Nesse mito, a pedido do próprio andrógino, que amava sua outra metade mas não a podia abraçar, foi cortado ao meio e separado para sempre em duas partes, uma masculina e outra feminina.
Estas duas partes, estão desde então destinadas a se procurarem pelos confins do mundo.
Por outro lado, Jung, nas suas pesquisas sobre o inconsciente, define duas instâncias na alma humana: animus seria a alma masculina na mulher e anima a alma feminina do homem.
Muitos desdobramentos acontecem aos humanos em função dessas instâncias cruzadas, mas uma delas incomodou Jean Shinoda Bolen. Trata-se do fato da mulher precisar de uma alma masculina - animus, segundo Jung, para poder se comportar de modo mais racional, lógico, estratégico, claro, direto e outros atributos considerados masculinos.
Observando suas clientes no seu consultório de analista junguiana, Bolen concluiu que existem outras causas de comportamento mais “masculinos” em algumas mulheres. São os efeitos dos arquétipos de deusas, ativadas nestas mulheres.
Depois de muito estudar e testar, entendeu e concluiu que as mulheres não precisam do animus [masculino] para serem brilhantes, lúcidas, lógicas, objetivas, práticas, independentes. Algumas deusas, como Atena e Artemis se caracterizam por estes atributos e podem estar ancoradas como seus arquetipos, nas mulheres que agem segundo tais padrões.
- Na Coradin & Lyra exploramos este mundo da mitologia feminina, a partir do perfil de sete das deusas greco-romanas e desenvolvemos instrumentos de autoavaliação para auxiliar na compreensão de alguns dos desejos, tendências e comportamentos das mulheres.
- Nossa experiência nos mostra que a participação nessa atividade, enriquece a cultura sobre mitologia e comportamento humano, favorecendo de modo incomum e agradável o autoconhecimento.
1 LELOUP JY. Seitas, igrejas e Religiões. Verus 2006. p 28
2 BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega. Vol I. Petrópolis : Vozes, 2007. p. 44
3 ELIADE, M. Mito e realidade. São Paulo : Ed Perspectiva, p. 7
4 Eliade, Mircea. Mito e realidade. São Paulo : Ed Perspectiva, 2006, p 13
5 SHARP, Daryl. Lexicon Junguiano. Buenos Aires, Argentina: Ed Cuatro Ventos p.105 e 106